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O Cinema e a construção do gênero feminino



O cinema apresenta um universo de dinâmicas sociais. Permite aos espectadores que observem com algum distanciamento o desenrolar da narrativa; facilitando o julgamento, a crítica e a reflexão sobre os personagens. Esta posição é ainda favorecida pelo controle remoto, que dá ao observador o poder de parar, voltar ou adiantar as ações e diálogos, o que é mais um recurso, que pode contribuir com a análise da obra.

Laura Mulvey iniciou uma reflexão acadêmica sobre a representação das personagens femininas na tela, sua análise tem inspirado pesquisadoras feministas. Em filmes de ação, por exemplo, é comum a cena de alguma personagem caindo e atrapalhando a dinâmica do herói. Elas são apresentadas como lentas e pouco perspicazes. Em outros gêneros cinematográficos também, habitualmente, elas ocupam papéis secundários, excetuando as narrativas românticas, isto é, histórias que privilegiavam as relações afetivas ou sexuais.

Os estudos feministas em cinema tem pensado a questão da reapresentação feminina. A pesquisa da teórica Teresa de Laurentis identificou e denunciou o poder das imagens cinematográficas como um mecanismo que impulsiona e perpetua modelos estéticos e de comportamento “femininos”. Para Laurentis (2019), estas imagens estereotipadas são representações nas quais o espectador se espelha e através da qual passa a interpretar os corpos e seu lugar no mundo.

Laurentis (2019, p. 136) formulou o conceito de cinema como tecnologia de gênero: “Não há dúvida, de qualquer modo, de que o cinema – o aparelho cinematográfico – é uma tecnologia de gênero”. No entendimento de Laurentis, o cinema está permanentemente difundindo, por meio de seus personagens, e construindo, na sua interação com o espectador, valores, crenças e modelos de comportamentos. Ela observou que o cinema estava participando da construção de “modelos” de mulheres e impondo veladamente comportamentos a uma infinidade de subjetividades particulares de corpos e mentes.

Assim, inspirada no teste de Bechdel (Alice Bechdel, 1988), este texto propõe um possível filtro para que um filme não seja considerado machista. Será que algum filme passa pelo filtro?


· A quantidade das cenas de nudez é equivalente entre os gêneros? Caso não seja, isso pode ser justificado pelo roteiro? As cenas de nudez de mulheres devem aparecer na mesma quantidade das cenas de homens nus, mostrando os corpos e sua sexualização de forma similar. Ex: aparece um homem nu andando, sem sexualizar seu corpo e por outro lado, mostra a mulher nua em cenas lentas, com a câmera mais próxima e plano detalhe, a fim de sexualizar seu corpo de mulher


· As conversas entre as personagens femininas incluem temas profissionais e gerais da mesma maneira que as conversas entre homens?


· As mulheres desprovidas de inteligência são apresentadas na narrativa na mesma quantidade da apresentação de homens desprovidos de inteligência? Em uma conversa com densidade, elas participam ou surgem com comentários frívolos?


· A narrativa, quando retratando o universo contemporâneo, está repetindo os papeis sociais tradicionais do masculino e do feminino de que forma? Com uma visão crítica? O que isso está comunicando? Os estereótipos de gênero estão sendo reforçados? O que significam essas representações, dentro do contexto fílmico? Ex: mulheres exercendo apenas trabalhos domésticos e divagando sobre futilidades, enquanto os homens sustentam a família e envolvem-se no ambiente profissional?


Referências Bibliográficas


BECHDEL, Alice. Teste de Bechdel. 1988. Disponível em:


LAURENTIS. Teresa de. A Tecnologia do Gênero. In: HOLLANDA, Heloísa B. de. Pensamento Feminista – conceitos fundamentais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019.


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